Chegámos à Boavista. Dona Maria Rosa aparece ao ouvir o som já antigo do amola tesouras, que em tempos já remotos calcorreava as ruas das aldeias mais isoladas, amolando tesouras de costura e prenunciando a chuva. ( foto )
Vem de sorriso aberto e com uma simplicidade e simpatia que se reflectem no rosto, na maneira de estar, na fala. Procura revistas de bordados que lhe ensinem novos “pontos e pospontos” para fazer mais um naperon, um cortinado, ou uma toalha para o enxoval dos netos. ( foto )
É quase meio-dia, o sol já vai alto e Dona Maria Rosa diz-nos que já tem o almoço feito. Ensopado de borrego e conversa puxa conversa , deslizamos na ampulheta do tempo:
- Antigamente era tudo muito diferente. Havia muita fome e miséria. Trabalhava-se de sol a sol e para comer muitas vezes só havia toucinho amarelo que só de olhar dava ânsias. Quando chegava a hora do almoço, as mulheres juntavam-se aos homens em roda de uma panela de barro, onde era cozinhado o almoço. Na maioria das vezes o que se comia era uma sopa de batata com azeite cru por cima e a “sobremesa” eram umas “azeitonas sapateiras” que nem sabor tinham. - o rosto agora ficou sombrio e as rugas oferecem-se como linhas de um texto rasgado na carne.
Sou um filho de outro tempo e escrevo estas linhas agradecendo o privilégio de poder escutar esta história de trabalho, resistência. Obrigado D. Maria Rosa.
Nelson Miguens ( estagiário de animação social-cultural )
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