Mote
Uma aldeia sem escola
É como uma casa sem pão
Um mendigo sem esmola
E um corpo sem coração
I
É como uma árvore sem rama
Um rebanho sem pastor
Como um Verão sem calor
Um Inverno sem lama
Um bebé sem mãe nem ama
Uns sapatos sem ter sola
Um músico sem viola
Um banco sem capital
É como um rio sem caudal
Uma aldeia sem escola
II
É como um barco sem fundo
Um passarinho sem asas
Como um lume sem brasas
Como um pobre surdo-mudo
Como um circo sem faz-tudo
Um quintal sem portão
Um ceguinho sem um cão
Um carro sem ter motor
É como um parto sem dor
É como uma casa sem pão
III
É como um casal sem descendentes
Como uma noite sem luz
Como um calvário sem cruz
Como uns óculos sem lentes
Como uma fonte sem nascentes
Como um mestre sem bitola
Um polícia sem pistola
Um objecto que não presta
Uma colmeia sem mestra
Um mendigo sem esmola
IV
Um albergue sem telhado
Como uma ave sem ninho
Uma terra sem caminho
Um idoso abandonado
Um carreto já passado
Uma espiga sem ter grão
Uma cama sem colchão
Um projecto que não avança
Um doente sem esperança
E um corpo sem coração
Autor: José Joaquim Damião Mateus
Mombeja, Novembro de 2010